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Exposição Pintura
 

com asas cortadas aos quadrados

Da Pintura
Em 2003, numa visita de estudo da Escola Garcia d'Orta – Castelo de Vide, ao Museu Rainha Sofia, em Madrid, um aluno, em frente às obras de Tàpies:
– Professor, o que se passará dentro da cabeça das pessoas que pintam estes quadros?!
Anotei a pergunta e nunca mais me esqueci. Ainda hoje não encontrei resposta. Sentado, mergulho no trabalho de ontem. Tudo
dança na minha cabeça. Os territórios onde me albergo habitam-me. Vivo neles e eles em mim, secretamente, mas com o rasto da pintura, da fotografia e do desenho. O chapéu de palha dos meus dezassete anos pendurado no cavalete de pintura.
O passado em cima da Pintura. Pinto. Desenho. Medito. Escrevo. Provo o arroz de polvo.
Altero, emendo, raspo – tudo embrulhado na ansiedade que me alimenta. Bebo chá. Aqueço-me. Esqueço-me. Agasalho-me na indecisão da Pintura. Sentado. A tranquilidade da espera e a fuga sem partida. Mudar a escala talvez seja uma solução. Criar o desencontro, outra. A verdade do fracasso, sempre. O sol ilumina-me a mão e o vazio da folha branca. Duas fatias de pão na torradeira. O Glenn Gould a tocar. O melro, em equilíbrio, no ramo do bambu. Eu, em desequilíbrio, na Pintura. Ao sinal da torradeira, regresso à cozinha, onde tudo é mais tranquilo. Volto ao mergulho no azul-cobalto que continua a bater asas a um canto da tarde. Vejo o que ontem não vi. Amanhã verei o que hoje não vejo. O telefone toca... Não atendo.
“Com estes fragmentos escorei as minhas ruínas.”
- T.S. Eliot
a.r.
(Excerto do texto do catálogo da exposição)

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